TALENTO - 50 success - 10
RECITAL COMENTADO
PIANISTA CURITIBANA APONTA OS CAMINHOS PARA MELHOR
COMPREENSÃO DA MÚSICA ERUDITA
Os sons e a música, quer como comunicação em si, ou corno ambientação e expressão, constituem realidade indiscutível em nossas vidas. Ouvir é essencial, porém ainda mais primordial é escolher o que se quer ouvir. Tem sido uma constante na vida atual da sociedade a baixa qualidade do material ouvido pelos seres humanos. Por que não afinar nossos ouvidos para consumir sons melhores?
A música de grandes mestres corno Beethoven, Bach, Chopin, VilIa-Lobos e outros, ainda é possibilidade auditiva para poucos. Observa-se grande lacuna entre a minoria de intérpretes e apreciadores da música erudita e a população de maneira geral. Para quem tem oportunidade de receber a iniciação no alto mundo musical, o recital comentado surge como caminho para diminuir a lacuna entre ouvinte/clássico. O recital comentado proporciona a familiarização entre a pessoa comum e esses imortais gênios da criação graças a linguagem coloquial do apresentador do espetáculo. O intérprete, conhecedor da obra musical em profundidade, disseca a música clássica e desmistifica-a. No século passado, quando um exímio artista (virtuoso) se apresentava publicamente em determinado espetáculo, bastava e o púbico se dava por satisfeito. Como tudo é dinâmico, atualmente em pleno século da mídia, o artista está mudando de postura.
Comunicar-se através da palavra é tão importante quanto comunicar-se via música. Porque o grande público é consumista e precisa viver a arte de forma mais moderna. Aí está o motivo pelo qual a pianista Salete Chiamulera vem empregando o recital comentado como a melhor forma de comunicação nos espetáculos. Já realizou duzentos desde o regresso ao Brasil após ter permanecido durante dois anos na Polônia.
Talvez seja mais desgastante, pois neste tipo de apresentação, o artista precisa fazer tudo sozinho: recita, toca, coloca slides e explica a vida do autor, realizando na prática a comunicação mais viva e acabando de vez com os monólogos de épocas passadas. São mais de vinte anos de carreira. A pianista curitibana começou a estudar piano com a irmã Valentina, passou pelas mãos de Liane Essenfelder Frank na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Nessa mesma escola, concluiu o Curso de Licenciatura em música e o curso superior de Instrumento. Foi assistente da pianista e professora Maria Leonor de Mello Macedo na Escola Superior de Música de Blumenau. Atuou com o pianista Gley Leichsenring e realizou espetáculos em Curitiba e interior juntamente com a escritora Luci Mata Colin.
Foi responsável pelas cadeiras de Estética e Percepção Musical da EMBRAP. Teve aulas com Dilma Sigwalt, Vânia Pimentel, Marco Antonio Almeida e Osvaldo Colarusso. Estudou com Luís Thomaszeck. Fez cursos de aperfeiçoamento com Homero de Magalhães, Heitor Alimonda, Antonio Bezzan, Magdalena Tagliaferro, Jacques Klein, Miguel Proença e Artur Moreira Lima.
NA CORTINA DE FERRO
A experiência mais importante para Salete pode ter sido a passagem pela Polônia, onde foi estudar como bolsista. A princípio, o choque cultural, a barreira do idioma, o frio cortante (37 graus negativos) e o aprendizado duro na Academia de Música Chopin de Varsóvia. O Brasil era ao mesmo tempo o país exótico das matanças de índios e a pátria da “Escrava Isaura” da Rede Globo de Televisão e que tanto sucesso fez entre os poloneses.
Conseguiu fazer amizade em Varsóvia, conheceu Chopin profundamente. Foi selecionada para o XI Concurso Internacional de Piano Frederic Chopin, em 1985 como única representante brasileira presente naquele importante acontecimento musical que se realiza a cada cinco anos. Realizou recitais na Cortina de Ferro, divulgando o compositor brasileiro Villa-Lobos. Em outubro de 1987 apresentou-se na Escola Normas de Música de Paris.
Villa-Lobos foi seu guru durante a permanência na Polônia. Curtindo saudades do Brasil, Salete Chiamulera vivia a pátria através do grande compositor. A introspecção dos poloneses foi deixada de lado: todos queriam conhecer a obra do genial brasileiro, permitindo maior abertura à cursista curitibana.
Após voltar, o trabalho não parou. Ano a ano, espetáculo atrás de espetáculo primeiramente com a ajuda do governo (Banestado) e depois sem o patrocínio de ninguém. Como empresária de si própria, Salete tem-se desdobrado percorrendo diversas cidades do interior do Paraná, além de ter tocado no Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília e Campo Grande. Ela não concorda quando falam que aqui não há campo para o profissional. Pelo contrário, sempre existe quem esteja interessado em ouvir bons músicos. Valem as escolas, clubes, centros de letras, teatros e outros locais.
MISSÃO COM AMOR
Para quem gosta da arte, trata-se de missão das mais prazerosas. A concentração durante horas é necessária e torna o trabalho fascinante. É corno define a pianista: mecânico, intelectual e emocional. É completo: dedos, cabeça e emoção. A escolha recai sobre a obra mais condizente com o momento. Se a artista está triste, opta por obra desse teor; se apaixonada, dedica-se a transmitir o mesmo sentimento.
O grande ídolo é Jesus Cristo. Salete gosta de extravasar a lição máxima de Cristo (amor) através do instrumento musical. Se entrega totalmente. Sem pretender imitar ninguém. Deseja ser ela própria, desenvolver ao máximo o potencial e assim servir à humanidade, proporcionando felicidade ao próximo através do dom que Deus lhe deu.
Nascida sob o signo de Áries, quase se tornou engenheira civil. Desistiu em favor da arte. Uma dedicação que divide com o amor (é noiva) e os planos de realizar um curso de mestrado em San Diego, na Califórnia durante os próximos dois anos. Apesar das viagens pelo mundo, adora a convivência familiar, é extremamente caseira, pretende se casar e levar a vida normalmente. Não quer dizer abdicar da missão. Precisa de compreensão já que não larga mão de dedicar-se às vezes um dia inteiro ao estudo, leva as partituras para a cama, entregando-se realmente de corpo e alma. A fidelidade à arte está em primeiro lugar, com sensibilidade. A identificação total com o ideal. |